domingo, 9 de junho de 2013

Enfim, uma alternativa de direção

Dirigente da União Nacional dos Estudantes na gestão 2011/2013 e coordenador de Movimentos Sociais da Juventude do PT (JPT), Jonatas Moreth, avalia o Congresso da UNE, realizado de 29 de maio a 2 de junho, em Goiânia (GO). Ele destaca as avançadas resoluções aprovadas no Congresso, o desempenho positivo da Articulação de Esquerda e a coerência das propostas apresentadas. “Em todo o processo fomos coerentes com nossas concepções de movimento estudantil autônomo e democrático”, afirma. Leia o texto na íntegra...


Dirigente da União Nacional dos Estudantes na gestão 2011/2013 e coordenador de Movimentos Sociais da Juventude do PT (JPT), Jonatas Moreth, avalia o Congresso da UNE, realizado de 29 de maio a 2 de junho, em Goiânia (GO). Ele destaca as avançadas resoluções aprovadas no Congresso, o desempenho positivo da Articulação de Esquerda e a coerência das propostas apresentadas. “Em todo o processo fomos coerentes com nossas concepções de movimento estudantil autônomo e democrático”, afirma. 

Para Moreth, o grande desafio daqui para frente é transformar as excelentes resoluções em luta cotidiana. “Aí é que nós da Articulação de Esquerda e do Campo Popular cumpriremos um papel imprescindível”, cita. O dirigente comenta, ainda, questões como o porque o PT, embora tenha a simpatia de boa parte do movimento estudantil, não consegue maioria na entidade, a hegemonia do PCdoB e em que medida as decisões tomadas pelos estudantes têm impacto no cotidiano da população e da juventude. Confira a entrevista:
Página 13 – O Congresso da UNE acaba de ser encerrado. Quais decisões deste Congresso tem impacto na vida do País, nos rumos da educação brasileira, no cotidiano dos estudantes e da juventude?
Jonatas Moreth - Em primeiro lugar vale destacar que o Congresso contou com mais de sete mil estudantes, destes 3,8 mil são delegados eleitos nas bases. Isto comprova toda a força e capilaridade da UNE e a necessidade da sua construção e disputa. Mais uma vez a UNE honra suas tradições de pensar o Brasil, sua soberania e o seu desenvolvimento. Sair com resoluções duras em defesa da reforma política, democratização das comunicações, reivindicando o cancelamento dos leilões do petróleo, criticando o aumento dos juros, mostra que a maior entidade de estudantes da América Latina não dá ás costas para os grandes debates nacionais. Para, além disto, a prioridade dada para a construção de uma reforma universitária e da regulamentação do ensino privado, comprovam que os estudantes reconhecem que a educação melhorou nos últimos 10 anos, mas que não estão satisfeitos. Queremos mais. Queremos acabar com a farra e a mercantilização do ensino privado. Queremos uma universidade sem machismo, homofobia e racismo. Queremos muito mais assistência estudantil. Queremos uma universidade sem muros e que pense o desenvolvimento nacional. Agora o grande desafio é transformar avançadas resoluções em luta cotidiana. Aí é que nós da Articulação de Esquerda e do Campo Popular cumpriremos um papel imprescindível.
Mais uma vez o PCdoB elegeu o presidente da UNE. A que você atribui a hegemonia deste partido na entidade estudantil?
São quatro características que garantem essa hegemonia: a centralidade na disputa da entidade; o controle absoluto do processo eleitoral e sua tecnologia de disputa; a política de massas que atinge o senso comum, em especial, o das universidades privadas; uma ampla política de alianças, que eles conseguem montar graças a sua maioria e a distribuição de espaços na Diretoria.
A maior parte da juventude universitária que simpatiza com partidos, simpatiza com o PT. Por qual motivo o PT não consegue transformar esta simpatia em maioria na UNE?
Primeiro porque nas universidades tem crescido o debate apartidário e isto precisa ser combatido por nós. Segundo porque boa parte dos petistas abre mão de fazer uma intervenção petista nos espaços da UNE. Terceiro porque o PT não tem uma atuação unitária. Neste Congresso, por exemplo, teve petistas nas três chapas que se apresentaram na plenária final. E, em quarto lugar, vale ressaltar que o próprio PCdoB não tem uma atuação partidária na UNE. Eles atuam enquanto UJS, uma frente de massas da juventude. Este quarto elemento inclusive tem sido reproduzido por vários outros partidos.
Antes, todas as tendências petistas disputavam com o PCdoB. Agora, a maioria das tendências petistas prefere aliar-se com o PCdoB. Como você explica esta mudança de atitude?
Em que pese discordar, tenho muito respeito pela posição dos demais camaradas petistas. Eles apresentam a tese de que o PCdoB e seus aliados na UNE, tais como o PSB, PDT e PMDB, são aliados do nosso projeto nacional e são base de sustentação do Governo Dilma, logo devemos estar juntos também na UNE. De nossa parte discordamos porque o fato deles serem base de nossos governos não necessariamente significa que são aliados ao nosso projeto nacional. E não precisamos reproduzir as alianças eleitorais dentro dos movimentos sociais. Para nós uma coisa é a aliança social e outra a aliança eleitoral. Outra tese que tem crescido é que é possível fazer a disputa por dentro. Está tese também não é verdade, pois a maioria absoluta do PCdoB, somado ao controle com mão de ferro da entidade, mais a ausência de democracia não permitem essa disputa.  São vários os exemplos disto e o mais emblemático foi o do Estatuto da Juventude. Sem passar por nenhuma instância o PCdoB, em nome da UNE, fez um acordo com os artistas para colocar uma cota de 40% na meia-entrada cultural. O PT todo era contra, mas os diretores da UNE petistas que compõem o campo majoritário nada puderam fazer.
E a Articulação de Esquerda? Como você avalia o desempenho da AE no Congresso da UNE?
Avalio de forma muito positiva. Primeiro por termos uma bancada de delegados e delegadas eleitos de forma legítima perante os estudantes, sempre preferindo uma boa briga a um mau acordo, ou até mesmo um bom acordo. Em todo o processo fomos coerentes com nossas concepções de movimento estudantil autônomo e democrático. Temos orgulho em dizer que nenhuma de nossas atas de tiragem de delegados foi recusada. O segundo ponto é: por ter durante todo o Congresso apresentado política para a entidade, seja nas mesas de debate, nas plenárias, nas resoluções, enfim pautando e disputando os rumos do movimento estudantil. A construção do campo popular foi positiva por ter sido sem dúvida a grande novidade no Congresso e pela política de se apresentar enquanto uma alternativa de direção para entidade. Está construção coletiva e plural foi coroada com a eleição de duas diretorias na Executiva e mais nove na Plena. De nossa parte elegemos uma vaga rotativa na Diretoria Executiva e duas na Plena, o que significa um aumento em relação ao último Congresso. Por fim voltamos para nossas universidades com a estudantada empolgada para dar continuidade a este trabalho, construindo e fortalecendo um movimento estudantil combativo e acumulando forças na disputa da UNE e do nosso projeto de universidade democrático e popular.